O dia em que Arthur leu na sala de aula

O dia em que Arthur leu na sala de aula. ©UNICEF/BRZ/Raoni Libório

A informação de que Arthur havia lido na sala de aula foi recebida com grande alegria por Bianca Tenório, diretora da Escola Municipal Engenho do Meio, no Recife. Era uma conquista. Simbolizava que Arthur Filipe Banja, de 11 anos, tinha aceitado a rotina escolar e sentia-se incluído. Descrito pelos pais como um menino muito alegre, mas, até então, pouco sociável por conta do diagnóstico de autismo, Arthur começou a rejeitar a ideia de ir à escola. Chegou ao ponto em que batia o pé e ninguém conseguia convencê-lo do contrário. Sensíveis, os pais identificaram que era hora de buscar outro ambiente.

A mudança aconteceu no fim de 2017. Os primeiros dias e semanas foram mais difíceis. Até que a rotina de pegar o ônibus para chegar à escola passou a ser bastante esperada pelo garoto, que adora meios de transporte, tornando-se um ponto de partida positivo para sair de casa. Aos poucos, Arthur foi se adaptando à escola e passou a participar das atividades pedagógicas, esportivas e corporais. A participação dele na leitura na sala de aula, atividade rotineira em todas as salas para começar o dia, foi vista pelos professores e gestores como uma resposta: "estou com vocês." 

Desde então, Arthur demonstra maior abertura para participar de todas as ações planejadas pela escola, já que todos os alunos sempre são inseridos – condição que foi reforçada pela gestão depois de participar de duas edições do projeto “Portas abertas para inclusão”. Como resultado, o menino ficou mais calmo até mesmo em casa e o tratamento com as pessoas mudou. Tanto que recebe as visitas em sua casa logo com um abraço e começa a mostrar seus brinquedos de carros e aviões, além de puxar conversa sobre viagens e aeroportos. 

Inclusão pela prática esportiva. Foto ©UNICEF/BRZ/Raoni Libório

A afetividade como caminho para conexão
A ternura é um traço forte de sua personalidade, que ganhou formas ainda mais evidentes de demonstração depois que ele mudou de escola. “Desde bebê, buscamos formas de conexão com ele. Lembro da primeira vez em que ele realmente olhou para o pai. Ele estava batendo as mãos no sofá e o pai começou a repetir esses movimentos. Ele sorriu pela primeira vez. Era como se dissesse, você está brincando comigo?”, conta a mãe, Claudia Ferreira, lembrado que ele tinha cerca de um ano de idade. 

Um pouco antes os pais começaram a identificar que havia algo diferente com o desenvolvimento de Arthur e o diagnóstico veio quando ele tinha um ano e cinco meses. “Fui me informar porque o que você não conhece vira um monstro. Depois fui entendendo e isso virou a minha vida”, descreve. Experiente na paternidade, pai de outros seis filhos, Alexandre Banja, diz que o segredo está na paciência e no amor. “Precisamos entrar no mundo dele e trazê-lo para o nosso. É preciso ter paciência porque ele é teimoso e tem sua forma de pensar. Mas, com paciência, já conseguimos manter uma rotina”, destaca.

O poder de uma bola   
Hoje, Arthur dá abraços espontâneos, interage, busca seus desejos e negocia ações e passeios. Há cerca de quatro anos, passou a gostar muito de ver futebol e já reconhecia camisas de times internacionais nos passeios. Com o desenvolvimento das atividades esportivas na escola, ele também passou a jogar bola, de futebol a basquete. E não perde a chance de se integrar quando encontra um grupo de crianças brincando. “Agora é uma paixão. Quando pega uma bola, o cérebro dele se expande. Vejo isso como uma forma de se desenvolver como pessoa, de interagir”, descreve Claudia.

Inteligente e autodidata, Arthur aprendeu a ler praticamente sozinho. Os pais desejam que essa qualidade possa seguir sendo desenvolvida, contribuindo para que ele torne-se um adulto independente. “Acho que o receio de toda mãe é partir e deixar ele aqui. Por isso desejo muito que ele se desenvolva, aceite que pode ser diferente e que os outros também o aceitem”, comenta. O desafio no mundo real ainda é grande, reconhecem os pais. Por isso, enxergam o diferencial do ambiente criado na escola de forma tão enfática. “Nosso desejo é que essa característica de inclusão e aceitação real, tão forte na escola, entre todos os funcionários e os alunos, pudesse ser replicada para outras escolas e outros ambientes”, descreve a mãe.

Portas abertas para inclusão
O sonho dos pais também faz parte do objetivo do projeto “Portas Abertas para Inclusão”, idealizado por uma parceria estabelecida entre o UNICEF, a Fundação FC Barcelona e o Instituto Rodrigo Mendes. A iniciativa busca dar um novo significado à educação física de forma que todos os alunos possam participar, proporcionando uma nova compreensão e relacionamento diante das diferenças humanas.

O projeto foi criado, em 2012, com a intenção de formar educadores de diversas regiões do Brasil para promover a inclusão escolar de crianças e adolescentes com deficiência por meio de práticas esportivas seguras e inclusivas. A realização do curso por parte dos professores e gestores das escolas municipais, além de capacitar os profissionais em novas abordagens de inclusão, é uma forma de adotar metodologias recomendadas pelo UNICEF e pontuar no Selo UNICEF.  

Selo UNICEF
A Edição 2017-2020 do Selo UNICEF conta com a participação de mais de 1.924 municípios de 18 estados brasileiros, na Amazônia e no Semiárido. Seu sucesso é resultado da parceria entre o UNICEF e governos estaduais e municipais por meio da atuação integrada entre diferentes níveis de governo voltados às crianças e adolescentes.

Alcançar os mais de 1.900 municípios que participam do Selo UNICEF só é possível graças ao apoio de milhares de doadores individuais e de parceiros corporativos como Amil, Instituto Net Claro Embratel, Fundação Itaú Social, RGE, Enel, Coelba, Cosern, Celpe, BNDES, CPFL, Sanofi, Neve, Energisa, Celpa e Cemar. Mais informações sobre o Selo UNICEF em www.selounicef.org.br.