Maria Vitória voltou para a escola e agora sabe que aprender é um direito

Vestindo uniforme escolar, menina sorri para câmera. Ela está numa cadeira de rodas encaixada na carteira escolar. Sobre a mesa, um estojo quadriculado preto e branco, uma garrafinha de água rosa e um caderno. Ao fundo da menina, outras crianças estão sentadas em suas carteiras vestindo uniforme escolar e olhando para frente
Vestindo uniforme escolar, menina sorri para câmera. Ela está numa cadeira de rodas encaixada na carteira escolar. Sobre a mesa, um estojo quadriculado preto e branco, uma garrafinha de água rosa e um caderno. Ao fundo da menina, outras crianças estão sentadas em suas carteiras vestindo uniforme escolar e olhando para frente
UNICEF/BRZ/Raoni Libório

Quando está em casa, é em uma cadeira de plástico que Maria Vitória passa boa parte do seu tempo. Com 10 anos, a menina de sorriso largo não sabe o que é caminhar. E, até bem pouco tempo atrás, ela estava fora da escola. Mas, com o apoio do município, a menina está de volta à sala de aula e aprendendo.

Como Maria Vitória, no Brasil, 1,7 milhão de crianças e adolescentes estavam fora da escola em 2018. No Semiárido e na Amazônia, eram 800 mil. Para rever esse cenário, o Selo UNICEF propõe que os municípios realizem a Busca Ativa Escolar. Ela tem por objetivo apoiar os gestores públicos na identificação, no registro, controle e acompanhamento daqueles que estão fora da escola ou em risco de evasão. Implementar essa estratégia é uma das condições para que o município seja certificado pelo Selo UNICEF. Nesta edição do Selo UNICEF, 90% dos municípios participantes aderiram à Busca Ativa Escolar, e foram de casa em casa, atrás de cada criança e adolescente que não estava na escola (confira aqui).

Moradora de Itabaianinha, no interior do Sergipe, Maria Vitória teve paralisia cerebral, o que gerou uma série de limitações físicas. A falta de mobilidade e de apoio para a inclusão, impediram a menina de continuar na escola. A mãe, Jocivalda, já não conseguia carregá-la por 20 minutos na estrada de terra que separava a menina da escola. E não havia outra opção.

A casa da família de Jocivalda é de tijolos e tão estreita que impede a entrada da menina com uma cadeira de rodas. As limitações não são apenas físicas. Ela e os três irmãos vivem num contexto de pobreza extrema que retira deles o direito de brincar, aprender e serem crianças. Como a irmã, os meninos também abandonaram os estudos. Em 2019, Maria Vitória e os irmãos foram encontrados pela equipe da Busca Ativa Escolar e começaram a trilhar uma nova história. A equipe municipal foi até a casa de Jocivalda, conversou com a família e foi atrás de soluções para levar as crianças de volta à sala de aula.

Maria Vitória agora possui transporte para ir à escola, cadeira de rodas, fraldas, uniforme e um atendimento especial, personalizado, no contraturno escolar, que ajuda a menina a se desenvolver melhor e orienta os professores sobre as melhores estratégias para o aprendizado dela. Jocivalda, que nunca aprendeu a ler e escrever, compreende que a educação é um direito e um instrumento para garantir que seus filhos tenham inclusão e proteção. “O projeto proporciona aos meus filhos algo que eu não tive. E isso não tem preço”, diz.

Com a Busca Ativa, Maria Vitória hoje tem muitos sonhos. “Quero ter uma casa com a minha família. E que seja perto da rua para eu ver as pessoas passando. Uma casa em que eu consiga me mover e ter meu próprio quarto. E que caiba a minha cadeira de rodas. Hoje sinto que estou mais perto disso”, conta.

Atendimento especializado

Para que Maria Vitória pudesse estar na escola e aprender, a equipe da Busca Ativa Escolar foi atrás dos recursos disponíveis no município. Um deles foi o atendimento especializado no contraturno escolar. Em seu primeiro dia no espaço, Maria Vitória era só sorrisos. De acordo com a coordenadora do Programa, Monica Carvalho, o primeiro passo é fazer um diagnóstico detalhado para depois traçar uma plano personalizado. “Ela é uma menina incrível, com boa argumentação. Os maiores desafios serão motores. Mas o próximo passo é continuar estimulando para que ela se desenvolva cada vez mais”, diz.

Sentada na frente do computador pela primeira vez, Maria Vitória conta que está muito animada por voltar à escola. “Senti muita saudade dos meus amigos, queria muito voltar. Ter amigos é muito divertido. Aqui eu posso aprender e ensinar a minha mãe a ler”.

O Selo UNICEF

A Edição 2017-2020 do Selo UNICEF contou com a participação de mais de 1.924 municípios de 18 estados brasileiros, na Amazônia e no Semiárido. Seu sucesso é resultado da parceria entre o UNICEF e governos estaduais e municipais por meio da atuação integrada entre diferentes níveis de governo voltados às crianças e adolescentes.

Alcançar os mais de 1.900 municípios que participam do Selo UNICEF só é possível graças ao apoio de milhares de doadores individuais e de parceiros corporativos como Amil, Instituto Net Claro Embratel, Fundação Itaú Social, RGE, Enel, Coelba, Cosern, Celpe, BNDES, CPFL, Sanofi, Neve, Energisa, Celpa e Cemar.